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rio grande do norte

agah precária

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lia vieira

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lia vieira

Eu cresci cheia de privilégios que me calaram e me oprimiram durante toda minha infância e adolescência. Na infância fui aquela menina branca, pálida nas palavras e na limpeza das roupas que minha mãe me dava pra usar. Na escola também me escondi, tão escondida que pouco me recordo. Permaneci ali, aqui, calada, sem som. Branca, pálida, limpa, calada, nula: eu acreditava que existia um só jeito de ser, permanecer sem alterações no lugar que me cabia. Não me cabia. Que lugar era esse em que se esmagavam desejos e sonhos? Por que tanto medo de sonhar? Minhas palavras ficavam cada vez mais entranhadas em mim e sem som. “Não é assim não! Não tá bom não! Não pode não! Não sabe não! Não!” 

 

O tempo não é linear. É como se, todo tempo, estivesse acontecendo tudo isso. “Sua letra é feia” - Esta era a única forma que ela tinha para me dizer: “capricha na caligrafia”. E eu, caía sempre no abismo. Acreditei que tinha um jeito certo de escrever. Certo? Herança?: um acúmulo de gerações que acreditam no jeito certo de viver, de ser.. Vivendo em um padrão aprendido, em que tudo que desvia é encoberto. Eu fugi disso tudo e caí. Mas fugir me fez me afastar da minha existência, me fez anular toda e qualquer possibilidade de encontro comigo. Meus sonhos ficaram ali encaixotados, meu eu ficava mais uma vez e de novo esquecido.
 

 

O tempo não é linear. É como se, todo tempo, estivesse acontecendo tudo isso. Ainda é muito difícil falar sobre essa mulher que me atravessa de forma tão intensa. Talvez eu nunca consiga dimensionar o impacto da sua presença na minha vida. Sei que a cada dia me sinto mais conectada a ela. Quando comecei a olhar para ela não só como minha mãe, como mulher, eu comecei a entender melhor o amor. Mãe é coisa forte em nós, é ruído e amor. É amor. Hoje decidi fazer com minha letra uma lista de canções. Sem me importar, decidi fazer o que me faz bem. Cantar é uma das coisas de que eu gosto.


 

O tempo não é linear. É como se, todo tempo, estivesse acontecendo tudo isso. Eu gosto das frestas, a luz que por elas escapa depois de tocar meu corpo. Ao olhar por uma fresta, vejo novos caminhos, meus olhos se abrem a novos olhares. Eu olho sempre por entre as folhas, ali existem muitos segredos. Às vezes, os meus olhos e o sol se namoram. Por essa fresta me vejo ainda ali, pálida, calada, nula. Ao mesmo tempo, por ela eu saio daqui. Só tem o silêncio quem um dia conseguiu suportar sua própria gritaria.

nardella vampiskarella

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reino

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