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pernambuco

alanys

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ana gabriella aires 

ana gabriella aires 

ELE ESTAVA NO CANTO DA SALA ENQUANTO A COMIA aos poucos, olhando para os lados e percebendo se ninguém o poderia reprimir pelo ato de fome insaciável que tinha e que o fazia ser ainda mais voraz nas mordidas que dava. Eu o olhava de lado e por poucos segundos até que fui percebida e por estar a contragosto do meu ato de reparar em sua intimidade ele a levou na boca para fora. Fiquei aturdida e precisei de algum modo conversar com alguém: as duas amigas que receberam meu telefonema estavam muito ocupadas e então eu morri com aquilo entalado. Acharam meu corpo catatônico não saberemos nunca quanto tempo depois e nem se o fedor tinha a ver com a morte de fato ou com o tempo que eu estava presa na espera: já havia flutuado tanto a notícia entretanto pensa-se sempre que não é hoje ou que não será conosco: a esperança demorada enfraquece alguma coisa: foi Beckett que disse e a outra lá, a atriz gostosona e tão divina, foi ela que repetiu e me deixou assim catatônica. Por que as pessoas precisam agoniar as outras nunca saberemos também, parece ser sempre uma agonia íntima e insuportável de carregar só então nem licença pedem acham que porque fui à feira podem me jogar caixas de sei lá quantos quilos na cabeça? Não. Então por que acham que minha ida ao teatro foi um pedido de que me jogassem uma agonia tão insuportável ao peito? Nunca mais poderia voltar atrás, certos impactos abrem um buraco impossível no real que há no peito – e há ideias sobre isso do peito o coração etcetera mas podia bem ser outro lugar porque não gosto do meu peito apesar de ter lido um poema tão lindo “corpo meu, meu advento, sólido instrumento de viver e de amar” será possível? Mas não importa, a catatonia chegou e foi isso: fiquei presa. No fim eu só queria ter compartilhado com minhas amigas, sabe? Asthar comeu aquela barata e ele é tão lindo de olhar, tão elegante, tão vivo, eu não queria matá-lo de fome, era questão de segundos ele comer a barata e eu já ia lá botar comida mas morri antes. Estou a rezar aqui do céu: pelo amor de Jesus Maria e José alimentem o meu filho mas se tiverem a oportunidade olhem antes aquele esplendor com que movimenta o corpo felino peludo – nunca saberemos a questão do preço daquela ração, sim, pra isso nunca haverá explicação não. Era nessa vez que deveria ter parado de acreditar porque acreditar é esperar algo e a fraqueza do peito não é tapada depois da morte, sabia? Olhe, enfim, Asthar é muito importante para a galáxia, não o deixem morrer.

deanna ribeiro

deanna ribeiro

Atravesso de sol caminho de raio
aponta amarelo é contra o quadro na parede
ponto de luz feito um buraco ao contrário
onde a beira ensombrece e no centro tudo claro
água o dia feito música feito canto de pássaro
emudece a minha voz mas me abre o pensamento
a janela é de luz à margem a ordinária hora
que apressa o dia endurecendo rápido
daqui a pouco ontem agora o ponteiro separa
mas o sol ele não sabe nem se importa
porque o tempo tempo mesmo não tem nem contado
nem tem número o tempo esse que a gente ignora
é lento e uno
(o dia que acabou de ser sol e já caminha largo)

jorja moura

jorja moura

COMO PÓLEN DE FLOR

Estava assustada por me sentir tão sufocada. Dentro de um pequeno espaço que não me cabia. Com as mãos e pés amarrados. Impossibilitada de andar para onde eu quisesse ir. Longas noites se passaram. E então, num dia exaustivo, como qualquer outro, ouço um crec. Percebi algo se rompendo, quebrando aos poucos. Uma dor forte em todo o meu corpo. O barulho de algo quebrando vinha das minhas costas. Saindo das minhas costas. Quebra, quebra e assim, eu enxergo a luz. Que linda é a luz do sol! Flores charmosas, árvores gigantes, verde, muito verde. Encho meus olhos de lágrimas. Achei que minha vida inteira seria presa no escuro, sem poder enxergar o belo. 

 

Olho para as minhas costas e percebo algo se movendo. Asas! Belas e longas asas cintilantes. Ofegante, sem imaginar que aquilo fazia parte de mim agora, começo a correr. Eu corro longe, corro alto. Percebo a grama verde nos meus pés. Confortável e aconchegante. Corro mais rápido, alcançando uma velocidade fora do comum, percebo que não estou mais sentindo meus pés no chão. As asas começam a bater mais rápido, como um cachorro eufórico para passear com seu dono. Elas me fazem flutuar. Levanto vôo. Vou alto, toco nas folhas das antigas árvores. Com o sol mais quente no meu rosto, sinto um vento forte chegar. Vou junto com ele. Voando, sentindo a brisa bater nas minhas pernas, minhas entranhas. Vejo um azul e profundo rio, que corre como uma flecha. Isso é um sonho? Será que estou dormindo e desejando que tudo isso fosse verdade? Como um ser tão insignificante, que passou a vida inteira no escuro, sufocada, tem o privilégio de sentir esse momento? De ver as nuvens, pássaros e flores tão de perto? 

 

Depois de voar por alguns dias, me sinto cansada. Deito na grama para descansar. Já é tarde, percebo um sol laranja descendo através do rio. Fecho os meus olhos e ouço o barulho dos outros insetos cantando, falando, rindo alto um com o outro. Ouço também, um corvo ao fundo. Distante, mas com seu canto grotesco tão horripilante, eu me arrepiei toda de medo. 

 

Abro os olhos, percebo o meu coração palpitar mais rápido. Ouço tambores se aproximando. Boca seca. Fraca. Me sinto muito fraca. Sento numa pedra fria para respirar. Como uma faca cortando a carne, sinto uma dor que vem de dentro. Algo não está bem dentro de mim. 

 

Uma lua minguante já está no céu. Ela fala diretamente para mim. Todo ciclo precisa ser respeitado. É meu fim? Não! Não pode ser! Agora que eu sou bela, tenho asas, posso ir para qualquer lugar. Como pode? Não posso ser condenada por ir embora agora! Tento respirar mais rápido, puxo e solto o ar, repetidamente.  Breath, that's all you can! 
 

A noite começa a ficar mais fria, não vejo mais nenhum animal ao meu redor. As rosas e os girassóis estão em silêncio. Sou só eu e uma velha pedra que mais parece gelo, suportando meu peso. Não consigo mais respirar. A lua parece sorrir para mim. De braços abertos para dizer que não preciso mais relutar. Já não sinto mais o meu corpo. Minhas pernas, onde elas foram parar? Não vejo mais meus pés, no lugar dele, aos poucos percebo que não estou mais ali. Um pedaço de carne e membranas que vão se desfazendo como pólen de flor. Fico pairando no ar, até ser levada pelo forte vento. Ao longe, um corvo alça voo. 

juliane xavier

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luiza branco

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mitsy queiroz

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Bolsa das Águas

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rayellen alves

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renier silva

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rhaiza oliveira

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sabrinna alento mourão

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2507


só o vazio permanece entre nós
antes e depois dele mesmo
o vazio do cumprimento
do abraço oco
da falsa memória bonita que se instala
o vazio da voz
da saudade
do que poderia ter sido
do que poderíamos ter sido
que difícil é ser mãe
e ser esmagada por expectativas de bom comportamento
ter a cabeça explodida pelo medo de falhar
gozar escondida ou fingir que goza
e chorar com medo que saibam o que você fez
que difícil é ser filha
e ser esmagada por expectativas de bom comportamento
ter a cabeça explodida pelo medo de falhar
gozar escondida ou fingir que goza
e chorar com medo que saibam o que você fez
*
quando deito pra dormir
com o rosto virado pra parede fria
e lembro das vozes dos meus amigos
falando das saudades que eles sentem da terra natal
do amor que eles sentem pelas mães
da confiança que eles depositam nas irmãs
um ensaio de dor me embala
até que eu adormeça
nas manhãs que vêm depois dessas noites
depois das vozes dos meus amigos
das saudades das terras natais
do amor sentido por suas mães
da confiança depositada nas irmãs
olho para xícara de café recém coado
e meu reflexo faz um muxoxo
porque da minha terra e da minha mãe
herdei os olhos e os cabelos
um pouco do traço da boca e do nariz
e todas as outras coisas para as quais viro o rosto

quando dou de cara comigo no espelho
porque é doloroso ter o rosto que te afasta
é estranho ser a face daquilo que negamos
sermos como água e óleo
num copo de convenções sociais que é constantemente agitado
e por um instante então giramos uma em torno da outra
como fazem os cães antes das brigas
como fazem os amantes em uma dança
como fazem a água e o óleo num copo agitado
até que parem e se separem
porque esse reflexo que é meu e teu não é nosso
esse rosto que é meu e teu não me ou te pertencem
mas tão somente aprisiona coisas próprias minhas nesse lugar que não habito
essas coisas minhas que fogem do teu repertório
coisas minhas presas na pele marcada de um clã qualquer que se julga melhor
que acredita que a morte é sempre alheia
que acredita que só a vida lhe pertence
o ouro o gozo a terra
essas feições que me condenam a nunca ter um nome meu
mas sempre uma insígnia familiar
enquanto me distingo entre eles
o único fio negro no mar de fios dourados
o olhar duro e úmido esmagado por deuses em seus carros esporte
o corpo que se consome porque se sabe perecível
diante daqueles cujo rosto morto é assustado
por acreditar na vida eterna
quando me dou conta já é outra noite
outra parede
outras vozes
e outras coisas que eu abdicaria para me misturar
ser água e sal
e na impossibilidade
vou adormecendo com o cordão umbilical em volta do pescoço
apertando e apertando até que eu caia no sono

sumaya

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tábata clarisse

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Com os missais nas pequenas mãos, cobria os olhos, diante do altar, assombrada pelo
horror dos sofrimentos do mártir. O sangue que escorria da cabeça e deslizava pelo corpo
se acumulava no meu peito como culpas e presságios. Sob o signo de que para ser aceita
no reino dos céus ou amada na realidade plural da terra, me condicionava ao destino
mítico. E que toda ele estaria amparado no amor divino que me guiaria para a eternidade,
cela solitária.
Na cosmogonia cristã no começo era o verbo, mas o Pai já estava lá para pronunciá-lo, e
assim criar o espírito, espectro, e assim criar o filho. Filha nasci investida de vontade e
com alguma dificuldade entoei o verbo, mas ainda faltava o Pai. Me abandonaste,
falamos. Ele em imagem de cruz e coroa, eu em espinhos.
A operação matemática da divina trindade não excluiria uma só persona. É santíssima
pois é eterna, superando os limites corriqueiros da carne, na graça do Pai. E de que valeria
a vida ocasional, pura combinatória, de um encontro fortuito entre um homem e uma
mulher sem amor nem propósito? Sem o passado para remediar a curta inscrição que a
vida vale no tempo. Que utilidade ou potência há numa mera dualidade no enfrentamento
da dura e trivial epopeia cotidiana?
Decidida a encontrar o fundamento, parti para sua busca. Em terra estrangeira, imenso
deserto de interesses senão a busca incerta da árida origem. Cada passo afundava em si
as identidades de tudo que fora construído para além da ausência. Estive diante do Pai e
em vez de uma santidade, vi sorriso deformado. Toquei no seu rosto e era frio e sólido e
muito cordial. Tateando descobri a pele rígida. Puxo sem esticá-la. Empurro. A dureza de
sua matéria denunciava a falsidade bem-posta na cara. Seus olhos eram aridez e
indiferença. Segurei a dureza de sua cara e arranquei-lhe ao chão, mas por baixo era outra
máscara. Arranquei-lhe e havia outra. Os ecos do movimento cansaram meus braços. Não
existiam camadas que eu tirasse que pudesse dar-lhe um rosto de homem ou de Deus.
Eram conchas, concretas e inúteis, no areal do deserto e ao pó voltariam para também
deserto ser. O Pai fez-se eterno em suas virtualidades.
Na agonia inclemente da repetição, empiricamente fui forçada a abandonar minha
metafísica. A desconfiança de que crenças não dariam conta da concha, da areia, da
máscara, do inútil. Na vida há muito de probabilidade e erro. E o acaso tem uma grande
parcela de responsabilidade para a justificativa das existências breves. A vida mesma,
essa banalidade no tempo, apenas a imprimir a urgência do bem viver e a breve
possibilidade de melhorar o que a história deslembrou.
Na aceitação do que já existia, olhei para o ventre de minha mãe, para o seu olhar de
cansaço e fulgor. Descobri nela todas as mulheres de minha ancestralidade, tão cansadas
e dispostas, como eu também haveria de seguir numa luta cotidiana, aprendendo as lições
de cuidado, replicando muito do que eu rejeito, gladiando contra padrões de submissão e
vergonha diante da condição feminina para não ter mais de pedir licença. Meu nome não
é Maria. Nem Eva. É Mulher. Na cama, o coito sem semeadura faz descobrir as alegrias
do olhar ao presente. Gozo pelo gozo, a ninguém o dever da satisfação. Apenas a arte de
satisfazer a mim mesma.
O enfrentamento interno de desenvolver um ofício colocou na agenda o refinamento dos
temperamentos. Nem tão refinados assim. Ainda inquietos e exasperados, como as ideias
que anoto na folha em branco. O enfrentamento externo de permanecer firme na utopia

ante a impossibilidade das estruturas regradas me deu um horizonte infindo para onde eu
pudesse caminhar. E dentro de toda história que sucedia apesar de mim, qual não pude
fazer parte, ou ter contato, percebo. E assim profano o mistério do fogo que ardia ao outro
em forma de eternidade.

[Missais]

thaysa aussuba

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valentina homem

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O Tempo da Mutação
 

O pensamento sobre o fim do mundo coloca uma questão sobre o começo do mundo e sobre o tempo antes do começo. Nossa origem não está em nós, mas fora de nós, ao ar livre. Estamos em um intervalo onde tudo é possível: imaginar é se tornar aquilo que imaginamos. Quando a última árvore cair, o chão se abrirá sob nossos pés e despencaremos. E na queda, transmutaremos. Ela derrete. Vira uma onça, um tatu, uma água viva. É o fim de uma forma de vida. O futuro se torna um lugar que demanda o nosso desaparecimento. Mas ela se recusa. Então ela abre o vazio com as próprias mãos e se deixar cair.


A floresta não para de se transformar, a cada momento vira outra e tudo nela é humano. A volta
do medo. Ela abre os olhos e vê. Vê o vazio e ele se move. Ela toca o vazio e ele é permeável, transparente. Tudo é possível e tudo é cinza. A luz e as estrelas, o ar, florestas, cachoeiras, rochas, rios, chuva, lagos pequenos e aqueles sem fim, animais que voam e os que andam, montanhas, praias, aquilo que vemos e aquilo que não vemos: tudo era nada. Para existir é preciso confundir-se com o mundo. Ser planta. Um gesto de criação no corpo vivo do mundo. É como ver com os olhos fechados. E ela via.


Naquele instante, de um jambeiro partido ao meio por um raio, a primeira ser nasceu. Um animal sem penas, sem escamas, sem memória. A origem do mundo aqui e agora. Ritmada, intermitente, como tudo o que há. A origem a meio caminho entre nós e os outros. Em mutação. A vida: um gesto através do qual uma parte de nossa matéria se distingue do mundo à sua volta com a mesma força que usa pra se misturar na matéria do mundo. Respirar é fazer mundo, se confundir com ele, e redesenhar nossa forma num perpétuo exercício de diferenciação. Tudo era humano, mas tudo não era. A floresta se transformava sem cessar e o céu então caiu. Ela fixou a imagem de um novo mundo no chão e aos poucos esticou sua pele com muito cuidado, como se modelasse um pote de cerâmica. Então ela cobriu essa pele viva com desenhos e palavras para prevenir que voltasse a cair.

xyzgabi

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