paraíba
dendê ma'at
Bombogira
Quando me verem chorando
Não me peçam para parar
Respeitem esse momento
É tão difícil ele chegar
Vocês nem tem noção
De como é ter a minha pele
Mente feito furacão
As marcas do que eu engulo
Vomito de porção em porção
A dor presente no peito
Que faz faltar o ar
E não basta respirar
Para tudo isso passar
Eu só queria um dengo
Um xero
E um cafuné
Acho que é tão difícil
Me manter sozinha em pé
As vezes até penso
Que é mais fácil desistir
E lembro que o plano deles
É tentar me coagir
Me fazer sentir inútil
Mal amada, indiferente
Até que sou lembrada
Que ajudo a construir mentes
É assim que eu reergo
Minha força ancestral
Conselhos soprados no ouvido
Essa voz para mim não é o mal
E o que eu sonho realizo
Porque eles tem um fundamento
Acordo e me levanto
Enraízo todo dia
Cada passo que eu dou
Estremece o sistema
Se eu falo e tu escuta
Para eles é um problema
O que querem desde sempre
É me ver calada e morta
Para brankkku sorrir contente
Preta desobediente
Apanha é estuprada e morta
Podem até tirar a vida
Desse corpo aqui presente
Que eu volto bombogira
E domino suas mentes
Encruzas, becos e vielas
Esses são os meus lugares
Se as sombras te assustam
E o meu fogo te queima
É melhor viver recluso
Bem longe do meu espaço
Minha saliva é combustível
Se preciso eu te cuspo
Só para te distrair
Atingindo teu orgulho
Assim te desequilibro
Dou uma banda com rasteira
E se precisar de ajuda
Te dou uma cabeça
Martelo e meia lua
Quero mesmo é que tu morra
E leve junto contigo
Toda a tua desgraça
lira
raízes
marina goldfarb
MERGULHO EM VERMELHO
Vivo para o amor,
mas isso, hoje em dia, está fora de moda.
E a paixão?
Temo e desejo.
Penetro cuidadosa em seu oceano vermelho
Sinto a delícia da espuma nos pés, tornozelos
Mas logo sou tragada pela intensidade da correnteza.
Tento manter a cabeça fora d'água, e vem uma onda que me submerge por inteira.